Um Congresso para o futuro

Opinião de Sofia Ribeiro

Escrevo esta crónica no último dia do Congresso do PPE, que decorre em Helsínquia. É um Congresso de preparação para as próximas eleições europeias, das quais resultará a selecção dos 705 novos Deputados ao Parlamento Europeu, numa União Europeia sem o Reino Unido (actualmente somos 751). Discutem-se estratégias e valores numa era caracterizada por grandes desafios internos em que crescem eurocepticismos, nacionalismos e populismos. Analisam-se, também, desafios externos, em especial face a regimes oponentes à Democracia e ao Estado de Direito, bem como o êxodo de refugiados. Por mais dispersos que pareçam todos estes problemas, a resposta está em nós, no PPE e na União Europeia. Sendo o PPE o maior grupo político europeu e, essencialmente, numa fase em que diminui significativamente a representatividade socialista em muitos países europeus, cabe-nos em especial a tarefa de recentramento das políticas e de credibilização da acção à escala europeia. Não obstante, a resposta reside essencialmente na União Europeia em si mesma. Na defesa dos seus valores, na ajuda externa, no reforço da sua cooperação com outros países externos, regulando parcerias que se traduzam em desenvolvimento mais sustentado e na protecção dos direitos humanos.

Este não foi, por isso, um Congresso normal. Foi reforçado com a realização de diversos painéis de debate a decorrer em simultâneo, abertos a proeminentes agentes sociais europeus que, como observadores, acompanharam o Congresso, num claro sinal de abertura do Grupo à sociedade. Discutiram-se estratégias eleitorais e de comunicação, os desafios da interconectividade digital, o futuro do trabalho na era da robótica, a integração dos séniores numa sociedade digital e o futuro do modelo social europeu, a cujo painel presidi, de entre outros.

Mas este foi, sobretudo, um Congresso eleitoral, em que elegemos o Spitzenkandidaten do PPE, termo alemão que corresponde a cabeça de lista. Tal cabeça de lista à escala europeia será o candidato do respectivo grupo à Presidência da Comissão Europeia e, muito embora a sua selecção seja sujeita à posterior eleição pelo Conselho e à aprovação pelo Parlamento Europeu, este é um processo que desde 2014 passou a estar fortemente vinculado à decisão dos cidadãos nos diferentes Estados-Membros.

Estando em jogo o futuro da “governação” europeia, reforçado por se perspectivar que o PPE volte a ser o grupo político que conquistará mais lugares no Parlamento Europeu, o Mundo esteve de olhos postos neste Congresso, no confronto de idéias entre os dois candidatos, Manfred Weber (Alemão Presidente do Grupo Parlamentar do PPE) e Alex Stubb (Finlandês Vice-Presidente do Banco Europeu de Investimento). Debateram-se essencialmente os valores da União Europeia e a visão que temos para o futuro.

Ganhou Manfred Weber. Muito embora dele tenha discordado por diversas vezes nas decisões de grupo, o que é salutar em Democracia, imprimiu uma agenda social e defendeu a coesão na sua acção. Pela primeira vez, podemos ter à frente da Comissão Europeia um Presidente que não sai directamente do Conselho, mas do Parlamento Europeu, com um compromisso mais próximo do Cidadão Europeu e menos subordinado aos Governos Nacionais. Como o mesmo referiu, o nosso dever é o de contribuir para que este Mundo possa ser um Mundo melhor. Num processo exemplar de eleição do seu Spitzenkandidaten, o PPE sai reforçado, reafirmando que a União Europeia constitui não um modelo de organização, mas o nosso futuro!

 

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