Opinião de Paulo Teixeira
Tenho especial admiração por dois grandes Homens do sector agrícola açoriano: Jorge Rita e António Aguiar. São dois açorianos de peso incontestável na nossa vida pública.
Jorge Rita, presidente da Associação Agrícola de São Miguel – uma das maiores a nível nacional e que mais impacto tem no rendimento direto dos agricultores a nível europeu – foi distinguido, pelo “Audiência”, como a “Personalidade 2015”. António Aguiar, presidente da Uniqueijo e da Finisterra, vice-presidente do município da Calheta e Lactaçor, foi distinguido pelo executivo da freguesia de Santo Antão (a que tenho a honra de presidir) como a “Figura do Ano-2015” pelo grande impacto que a sua liderança do setor leiteiro jorgense trouxe à estabilidade económica e social das famílias da ilha.
São Homens cuja capacidade de liderança é marcante. Quem se pode admirar que o Governo Regional de Vasco Cordeiro os rodeie de atenções com fotografias (mais vale uma imagem que mil palavras) que rapidamente correm os quatro cantos da comunicação social, espalhando a ilusão de que tudo vai bem no sector, quando a Agricultura açoriana, vive a mais forte crise desde 1977? Os custos de produção estão prestes a superar o preço de venda do leite e muitas empresas agrícolas encontram-se à beira da falência.
Mais: admiro estes homens que, fortemente seduzidos por um Governo Regional que a tudo controla e procura neles o salva-vidas – eleições obligent– para cativar votos dos produtores agrícolas, mantêm a firmeza na defesa dos seus associados mesmo num cenário de crise e sujeitos a uma governação que parece privilegiar o “ou estás comigo ou contra mim”.
Jorge Rita afirmou mesmo que a Região não se preparou para o fim das quotas leiteiras e que 60% da produção dos Açores está em falência técnica. Pediu ainda ao Ministério da Agricultura para ter uma atitude mais firme e pró-ativa em relação às medidas de Bruxelas. Defendeu que o futuro tem de passar pela melhoria do preço de leite à produção, situação com a qual estamos absolutamente de acordo.
Ora, vejamos: se 1 kg de queijo (mais ou menos 11 litros de leite) é vendido a 11,00 € ao público, o produtor vai receber por 11 litros de leite, no máximo três euros e meio; a cooperativa vai vender a cerca de 5,00€; há aqui uma diferença na ordem dos 50% do valor, que fica diluída até chegar ao consumidor. A verdadeira questão: quanto ganha, limpo, o produtor – isto é, tirando as despesas do custo de produção de 11 litros de leite? Dizia-me um dos maiores produtores da minha zona que se ganhasse 0,10€ (dez cêntimos!) num kg de queijo, ou seja em 11 litros de leite, estaria muito feliz.
Na minha ignorância, penso que se fica 2,00€ na Uniqueijo, mais 2,00€ na Lactaçor e mais 2,00€ no vendedor, a conclusão parece óbvia: o processo está de pernas para o ar porque o produtor é quem trabalha mais e quem recebe menos.
António Aguiar conseguiu trazer paz ao sector na ilha de São Jorge. Resolveu, num curto espaço de tempo,aquilo que anos de governação socialista não conseguiram. Recentemente, num artigo no Diário Insular, chamava atenção para aquela que é uma das medidas que o PSD propõe de dificultar a entrada de produtos que vão competir com os nossos: “Temos de fazer o que fazem outros países e proteger o que é nosso. Nós aumentámos as nossas importações, e muito. Devíamos aprender a valorizar os nossos produtos”.
No mesmo artigo António Aguiar dava conta que “são precisas medidas políticas”, chamando assim a atenção para o essencial: falta o Governo fazer a sua parte. O desemprego e a pobreza no meio rural não param de crescer. A agricultura e o meio rural açoriano estão fortemente ameaçados pelo despovoamento e o encerramento de serviços – como foram os das cooperativas, das escolas, se calhar, em breve, das Casas do Povo.
Ora, alerta Hermano Aguiar: “Perante este cenário, o governo regional anuncia, que vai exigir 2 milhões de euros de apoios da Europa e que vai investir 500 mil euros na promoção do leite e lacticínios no território nacional. (…) Para um governo que gasta 4.000.000 (milhões) de euros com um capricho da família César, chamado “Casa da Autonomia”, este apoio de 2,5 milhões de euros a um sector em crise é uma autêntica afronta aos agricultores e aos açorianos no seu todo.”
No meio deste pântano António Aguiar e Jorge Rita são a força moral e motriz de um sector que tarda em ter no Governo Regional de Vasco Cordeiro, um verdadeiro parceiro de luta. Pelo contrário, o Executivo permanece um fabricante de ilusões e esperanças, disfarçadas com Feiras de Gado quadrienais, medidas para agora combater o fim das quotas leiteiras e distribuição de mais dinheiro como se estivesse a tratar com mendigos.