Cruzamos olhares pela primeira vez, numa conferência sobre educação. Não foi preciso muito tempo, para eu perceber que estava perante uma personalidade na qual eu me revia, de uma forma quase constrangedora. A paixão que deixava a descoberto enquanto falava dos seus alunos, a serenidade com que expunha a sua inquietação relativamente ao futuro da educação, a energia que emanava nas suas palavras de esperança perante um cenário, em alguns aspetos, desolador, foram suficientes para que eu de imediato me tivesse rendido. Talvez por tudo isso, não me tenha causado qualquer surpresa, quando há dias atrás a revi, desta vez a conceder uma entrevista a um órgão de comunicação regional, enquanto impulsionadora de uma petição intitulada “Projeto Novas Rotas”. Sorri. Recordei-me do meu desabafo nessa mesma conferência, em que quase em jeito de súplica, apelei para que se passasse do pensamento “fora da caixa”, para a prática “fora da caixa”. E é exatamente neste contexto, que quase dou “pulos de macaco” – como se diz na minha terra – ao saber que um grupo de três dezenas de professores e duas dezenas de pais e alunos, se organizaram rumo à conquista de uma escola pública, alternativa, que se suporta numa fundamentação da educação holística, inspirada no modelo da já “quarentona” Escola da Ponte.
Quem como eu, tem atualmente filhos a frequentar o ensino educativo dito regular, ou mesmo quem não tendo, acompanha minimamente o assunto, não pode mais ficar indiferente a tamanha confusão. O clima de angustia e quase desespero, tantos nos professores e consequentemente nos alunos, como nos encarregados de educação, é tão evidente, que não pode deixar ninguém indiferente. O ritmo imposto à imensidão de conteúdos programáticos, inerente ao garante de que o currículo está a ser escrupulosamente cumprido, deixa qualquer pessoa atordoada. Com a agravante de que, não são raras as vezes, em que o discurso: “estamos atrasados; temos que avançar; estudem em casa.”, faz eco dentro e fora da sala de aula. Daqui resulta uma escola utopicamente heterogenia, em total desrespeito pelos diferentes ritmos de aprendizagem, onde o papel do aluno continua a não ser considerado nas suas diferentes vertentes, muito por culpa da pedagogia estática que ainda predomina no ensino. Não é de todo necessário esmiuçar muito o assunto, não requer tão pouco de grande literatura, basta observarmos as nossas crianças, as crianças deste século, e tentar identificar nas nossas escolas referências de interesse, fatores verdadeiramente motivacionais, capazes de aguçar a curiosidade de qualquer criança/ aluno, que os leve à descoberta, não só à sua descoberta, como à descoberta do outro, do diferente, do desconhecido. E se nesta análise, considerarmos ainda que o conhecimento está à distância de um “click”, desde que devidamente orientado, não restam dúvidas que está mais do que na hora de inovar na educação, privilegiando os valores de cada um, o ritmo de cada aluno, a apetência mais imediata, os recursos pedagógicos alternativos, a aprendizagem em contextos diversificados, entre outros.
Desta forma, parece-me por demais evidente que, observando este novo modelo educativo, já levado a cabo em diferentes regiões do nosso território nacional, em total respeito pelos currículos e programas impostos pela respetiva tutela, tendo inclusivamente o mesmo alcançado resultados, em alguns anos, superiores à média nacional, faz todo o sentido e reveste-se de enorme pertinência, que a Região Autónoma dos Açores, se permita dar este passo, em conjunto com as dezenas de professores e pais de alunos que ousaram não só pensar, como formalizar a vontade de levar avante um projeto inovador, ousado, alternativo, mobilizador, destemido, em suma, verdadeiramente “fora da caixa”.