O tabu do (in)sucesso — Opinião de Inês Sá

Ninguém gosta de falar de insucesso, independentemente da forma de que este se reveste. Já o contrário, não é válido. Tendencialmente, enchemos a boca a cada nova conquista, a cada nova vitória, seja qual for o êxito alcançado, individualmente ou extensivo aos nossos. De uma forma generalizada e particularmente consensual, sempre foi assim e sempre será.

Recordo-me de, ainda nos primeiros anos de escola, ansiar que chegasse o almoço de domingo, onde durante muitos anos, em casa dos meus avós paternos, se reunia a família mais próxima, sendo comum entre os primos partilharmos as notas alcançadas na escola. Mas também me recordo das noites mal dormidas e do quanto odiava este momento de partilha, quando as notas ficavam aquém das expectativas depositadas. Quando assim era, o exercício era tentar passar despercebida, ou ausentar-me da mesa quando o assunto “vinha à baila”. Não queria mentir, até porque nunca tive grande jeito para o teatro, pelo que omitir era a solução que melhor me servia e para a qual tinha a solidariedade dos meus pais. Desde essa altura, passaram-se mais de três décadas e tudo me parece permanecer igual.

O insucesso escolar e/ou as dificuldades de aprendizagem, apenas numa ou em várias disciplinas, são um assunto tabu, com que se deparam inúmeras famílias, do qual quase ninguém se atreve a falar. Gostaria de acreditar que, nos dias que correm, esta renitência em abordar o assunto, está diretamente ligada ao ímpeto genuíno e muito característico da maternidade, de protegermos a criança/ adolescente, per si, vitima de inúmeras consequências diretamente ligadas às dificuldades de aprendizagem. Haverá certamente muitos casos nestas condições, não sei se tantos quanto aqueles em que a vergonha se apodera do agregado familiar e bloqueia a melhor das intenções, num cenário onde urge intervir.

O que fazer? – é a pergunta que se impõe e para a qual tantos encarregados de educação, não encontram resposta, dentro deste sistema de ensino.

É legitimo reconhecer a importância de todas as medidas que vêm sendo implementadas nas escolas, com o objetivo de intervir e identificar precocemente situações de insucesso escolar, como é o caso das aulas de apoio, do Plano Integrado de Promoção do Sucesso Escolar – Prosucesso, implementado na Região Autónoma dos Açores, em sintonia com a Estratégia Europeia para a Educação e Formação, Europa 2020.

Não obstante, são inúmeras as dúvidas, incertezas, inseguranças, que todos os anos continuam a entrar “porta dentro” de tantos agregados familiares, independentemente da sua condição social e das respetivas habilitações literárias, relativamente à forma como devem intervir no percurso escolar do(s) seu(s) educando(s), em situações não exclusivas de insucesso escolar, como também quando confrontados com determinada fragilidade, na rotina dos seus educandos.

Não são raras as confidencias, geralmente segredadas em ambiente informal e/ ou de maior proximidade, de pais e mães em perfeito desnorte, angustia e incerteza, que buscam incessantemente alternativas, capazes de contribuir eficazmente, no sentido de aproximar os “jovens de hoje”, de uma escola que ainda hoje insiste nos “vícios de ontem”.   

Neste contexto, estou absolutamente convencida, que é fundamental criar condições dentro do Sistema Educativo, que não se esgotam no Gabinete de Psicologia da Escola, para dar resposta a estas famílias, por forma a colmatar todas estas hesitações, uniformizando sempre que possível a linguagem de todos os intervenientes no processo educativo, num espaço onde deveriam coexistir as diferentes dimensões (pessoais, familiares, escolares, sociais e outras), indispensáveis a qualquer processo de aprendizagem.

 

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