Reitero que não gosto de bairrismos. Acho até que enquanto continuarmos a ter uma visão limitada pelos interesses individuais, dificilmente conseguiremos consolidar a imagem da nossa Região. Contudo, e consequência da minha mudança de residência da ilha de S. Miguel para a ilha do Faial, confronto-me diariamente com situações, que ferem bastante aquilo a que muitos chamam de coesão. Na verdade, hoje, passados já alguns meses desde o primeiro dia em que aterrei no Faial, tornam-se evidentes as premissas daqueles que, aqui, desesperam por mais, que anseiam por um tratamento mais justo, mais digno, que diminua o fosso por demais evidente entre as 9 ilhas dos Açores. Não ouso entrar nas grandes fraturas da atualidade, como é o caso da eventual ampliação do aeroporto do Faial, até porque não possuo elementos concretos que me permitam formar uma opinião equilibrada, razão pela qual me recuso a opinar apenas com base em ruídos. Conquanto, não consigo de facto deixar de relevar situações que apesar de “corriqueiras” me causam tanto incómodo, quanto espanto.
Por ser um assunto que me é caro, aliás como não poderia deixar de ser, tendo já passado tempo mais do que suficiente para que a desorganização inerente ao início de qualquer ano letivo ter sido ultrapassada, admito a minha dificuldade em entender como é possível, nos dias que correm, que um estabelecimento de ensino público não tenha ainda um sistema informático para a aquisição de senhas ou consumo no bar. Ao fim de tantos anos, a sensação de ter de ir à escola comprar um bloquinho de senhas em papel e de ter de apetrechar as mochilas com algumas moedas, caso a fome das crianças aperte, fez-me reviver os meus tempos de escola, dos quais já me havia despedido há muitos anos. Entrar numa escola onde os auxiliares não só não estão fardados, como não estão identificados, tem tanto de caricato como de preocupante, no que à segurança diz respeito. Entrar centenas de vezes numa escola, em horas distintas, sem nunca a minha presença ter sido questionada, ultrapassa o preocupante e aproxima-se do assustador. A escassez de auxiliares de educação, por motivo de baixa médica e outros, em recreios com crianças de 6 anos, não é de forma nenhuma justificável. E por ora, fico-me por aqui.
São horas de ir buscar as crianças à escola. Bendita seja a presença diária da PSP junto ao recinto, ou era o caos completo. Mas há que subir a rua até chegar a casa. A pé não é fácil, porque só uma pequena parte da estrada tem direito a passeio. De automóvel até me faz doer a alma, em solidariedade com a pancadaria a que aquelas 4 rodas são sujeitas! Como é possível? Não consigo compreender, não me lembro de ver em mais nenhuma ilha, pelo menos em ruas de grande procura e movimento, uma rua tão degradada como aquela está. Quem como eu, tem que entrar naquela rua diariamente, saída de uma perpendicular a esta, ainda é brindado com a sorte de, mesmo sem conseguir ter visibilidade tanto para a direita, como para a esquerda, passar incólume. Nada que com apenas um espelho não se resolvesse, à semelhança daqueles que emergem como cogumelos nos cruzamentos de todas as restantes ilhas. Por aqui, apesar de já ter remetido à Camara Municipal um pedido desta “coisa difícil” que é um espelho circular, considerando o silêncio absoluto desta autarquia, acredito ter sido obsequiada com a pasta do SPAM.
Se é certo que nem todas as ilhas podem e/ou devem desenvolver-se da mesma forma, ao mesmo ritmo e com propósito idêntico, também é certo que assimetrias como estas que aqui identifiquei não são de todo aceitáveis, até pelo efeito perverso que causam numa região que se quer equilibrada, unida e solidária!