Dominados pela indolência do tempo quente de Verão, aqui, entre nós, acentuado pela mornaça do “capacete” de humidade, as notícias da Região, do país ou internacionais que sejam, vão deslizando para o esquecimento, sem nunca afinal terem chegado a merecer qualquer atenção…
Talvez aquelas notícias que se vêm repetindo há semanas sobre os muitos festivais que pululam no nosso país nos façam levantar uma sobrancelha. São os sons fortes, as luzes intensas, a agitação dos corpos, os entusiasmos e os excessos que se replicam de lugar em lugar, não sei se agrupando jovens diferentes ou se sempre os mesmos em peregrinação estival… Enfim, nada de novo!
Talvez aquelas notícias sobre futebol que, depois de um quase imperceptível aligeiramento, retomaram a sua intensidade habitual nos últimos largos dias nos provoquem algum trejeito. São horas a fio, simultaneamente, em todos os canais de televisão, grupos diferentes de pessoas com um discurso igual, a dissecar não-casos futebolísticos até à exaustão… Enfim, nada de novo!
E o tempo de Verão escoa-se lânguido.
Foi entre um suspiro de calor e a procura de uma bebida gelada que terá passado aquela outra notícia relativa aos dados divulgados pelo Banco de Portugal sobre o crédito ao consumo em Portugal ter batido os valores atingidos em 2010, imediatamente antes de termos chamado a troika…
Os dados agora revelados apresentam um consumo dos portugueses, em 2016, de 17 milhões de euros por dia, o que corresponde a um aumento de 17,5% em relação a 2015. Nos primeiros meses de 2017, já se registou um aumento de 145 milhões no crédito. Só no que se refere ao crédito à habitação, no mês de Março, foram concedidos 491 milhões de euros, o que representa um aumento de 29% apenas em relação ao mês de Fevereiro. No que se refere ao crédito automóvel, nos primeiros três meses de 2017 cresceu 35% e superou os 1,38 mil milhões de euros.
Perante estes dados eu tenderia a ficar preocupada e simultaneamente perplexa: afinal, não foi a contracção excessiva de crédito, desproporcional aos recursos dos devedores, que arruinou as famílias portuguesas…? Que debilitou o sistema bancário que, em alguns casos como no Banif, os clientes pagaram a custo das suas economias e que continuamos todos os dias a pagar com as taxas que nos impõem? Que obrigou o Estado a chamar a troika no reconhecimento declarado da sua incapacidade de se governar sem assistência externa, na capitulação da sua soberania? Enfim, nada de novo!
Mas talvez esteja enganada. Afinal, que percebo eu de finanças…? Não foi o Ministro das Finanças que imprimiu à sua gestão, não o aumento das exportações como motor económico, mas uma outra solução bem mais à mão: a dinamização do mercado interno através do estímulo ao consumo privado…? Ora então, nunca vi os portugueses tão cumpridores das orientações do governo!
Ainda assim, não me tranquilizo… Não é a primeira vez que um governo socialista afunda o país… Pensando bem, os socialistas chamaram a troika três vezes… É que ao mesmo tempo que o consumo bate recordes no topo, a poupança bate recordes no fundo, sendo hoje a mais baixa desde 1999… Ou seja, as famílias entraram numa trajectória de crescente desequilíbrio e a DECO testemunha-o tendo começado já a receber apelos de famílias que se endividaram a partir de 2015. No primeiro trimestre de 2017, o número de famílias com prestações em atraso voltou a subir e 183 famílias por dia deixaram de pagar os seus créditos – segundo os dados do Banco de Portugal.
Mas também aqui, nada de novo! Aguardemos por novidades lá para depois do Verão…