Muitos regressam a cada verão

Opinião de João Costa

João Bruto da CostaO verão é aquela altura em que temos noção de que há uma quantidade crescente de pessoas que fazem falta à sua terra, fazem falta nas visitas e a ilha faz-lhes falta nas partidas.

É um ciclo normal em terra de emigrantes, de gente que sai de casa dos seus pais, com orgulho de querer fazer mais e com a vontade de voltar.

Em ilhas pequenas de comunidades em que todos se conhecem, as partidas e os regressos são como que o destino que se cruza com a incerteza.

Passaram muitos anos sem que na ilha Graciosa houvesse ensino secundário, em que a partida de casa dos pais daqueles que o faziam era muito cedo.

Era, portanto, uma dura experiência de vida tanto para os que partiam, mas que criavam sonhos de voltar como para os que ficavam com a incerteza do futuro.

Felizmente, isso também teve um fim com uma oferta de formação para os jovens da ilha que passaram a ter ensino para lá do 9º ano, há já bastante tempo.

Recentemente, surgiu, contudo, uma nova realidade que está a levar para fora da ilha um crescente número de jovens cuja opção de formação não está disponível na ilha.

Voltamos, a um ritmo assustador, a ter jovens que saem de casa dos pais com 15 e 16 anos para poder ter acesso a uma formação profissional.

Esta realidade deve preocupar-nos enquanto cidadãos, enquanto pais, filhos e também políticos.

Pois, se quando passou a existir ensino secundário na ilha se estancou a saída de muitos jovens graciosenses para outras ilhas parece que, ultimamente, não acompanhamos a evolução dos interesses de uma nova geração, com outros objectivos e outros projectos para a sua vida ou para a sua ilha.

E quando perdemos as oportunidades de responder à geração seguinte sobre os seus desejos, estamos, também, a contribuir para as partidas de novo aos 15 ou mesmo aos 14 anos para ir estudar.

Certamente que o sistema educativo tem a capacidade de se adaptar a uma nova realidade que obriga alunos que optam pela via profissional a escolher pela sua formação e viver em outra ilha!

É nesse contexto de resposta aos novos tempos que olhamos, também, para os regressos, ano após ano, daqueles que um dia nos deixaram na incerteza após embarcarem para outras paragens, e o desejo de os ver voltar a uma terra que precisa de gente, da sua gente, tal como todos precisam de fazer tudo o que está ao seu alcance para que a ilha não continue a mandar embora os seus filhos predilectos.

Também, por ser verão e o sol afectar alguns pensamentos, há quem pense que isto é uma fatalidade, que sempre foi assim e que assim será para sempre.

Mas a essas ideias de verão, sobreaquecidas pelo sol e transpirantes pela humidade, costumo associar o calor que nos deixa de braços caídos e sem vontade de fazer nada!

Como sabemos é descabida a questão de nada fazer para que a realidade não nos passe por cima.

Temos de enfrentar os novos desafios que se colocam a uma nova geração de graciosenses ávidos de ver a sua ilha a avançar, a dar resultados, a fazer aparecer oportunidades.

É para esses que se pode cumprir com qualquer mandato em qualquer órgão para que se seja eleito, eles que nem têm ainda idade para votar, mas que para ir estudar para fora têm de ser “grandes”.

Eles merecem a nossa atenção, e muitos regressam a cada verão!

A todos: um bom verão!

 

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