Com alguma frequência ouvimos lamentar a fraca participação dos cidadãos na vida política, especialmente os mais jovens. É de facto algo que a todos deve preocupar, mas diga-se em abono da verdade que quando tais preocupações vêm de algumas áreas a hipocrisia que tais preocupações encerram assume contornos deveras inauditos. É o caso por exemplo quando tais preocupações partem da área do governo regional e respetiva administração regional bem como do partido que suporta o Governo, ou seja do PS.
Não serão necessários grandes especialistas nem dispendiosos estudos para constatar fatos bem concretos que longe de fomentarem a participação política dos cidadãos mais jovens bem pelo lhes inculcam e deixam bem vincado que a sua “desejável” participação é bem vinda, se e só se, seja para apoiar a atual estrutura governativa regional e o partido que a apoia, pois, caso contrário e se pretender seguir outras a opções em função da sua consciência e das suas convicções terá pela frente uma das seguintes situações:
Se pretender singrar na vida como jovem agricultor ou jovem empresário terá pela frente um autêntico calvário de exigências, burocracias, fiscalizações e dificuldades de todo o género que forçará o jovem a desistir, sobretudo se não tiver outros apoios, ou a abdicar da sua participação cívica e política enquanto não alinhado com os desígnios do governo e do PS.
Se pretender vir a ingressar na administração pública regional confrontar-se-á desde logo com o cenário de para qualquer concurso aberto, já ser voz pública (e caso curioso, normal e invariavelmente certeira) já se saber à priori qual o candidato ou candidata a que o mesmo se destina.
Caso mesmo assim (e muitos têm infelizmente sido os casos) persista e prossiga lá virá um abençoado júri que obedecendo “à voz do dono” (até porque terão também consciência os senhores jurados, salvo honrosas exceções, de que há que agradar à entidade patronal) que disporá as coisas de modo a que o predestinado/favorito lá tenha pelo menos mais uma ou duas décimas e tudo corra como planeado. A evidência destes processos tornou-se de tal forma tão obvia, escandalosa e descarada que o governo se sentiu na necessidade de anunciar que em nome da transparência havia que eliminar a entrevista destas provas na qual o grau de descricionaridade atinge níveis deveras inauditos.
Uma coisa é certa. Esta silenciosa máquina repressiva que pretende condicionar e coartar a liberdade sobretudo dos jovens não tem futuro e quantos mais jovens lhe fizerem frente mais enfraquecida ficará e menos serão aqueles que terão as suas vidas condicionadas por este poder que não só não gosta de quem lhe faça frente mas que nos seus estertores de moribundo ainda continua perseguindo, sempre que pode, todos aqueles que recusando a bajulação e o cinzentismo o afrontam.
*Deputado regional do PCP