Dor Crónica – Um desafio à escala europeia — Opinião de Sofia Ribeiro

Estima-se que 20% dos Europeus sofram de dor crónica e que os custos que lhe estão associados representem 3% do Produto Interno Bruto Europeu. São directamente afectadas cerca de 100 milhões de pessoas, com custos associados na ordem dos 500 milhões de euros, números que não nos deixam indiferentes e que têm tendência a agravar-se, face ao envelhecimento da população. Constituindo um problema de saúde pública, há que abordar a temática de forma compreensiva, integrando a sua dimensão social, e a União Europeia não tem sido alheia à questão.

A dor crónica tem um impacto profundo na qualidade de vida do doente e dos seus familiares e pode ter consequências físicas, psicológicas e sociais, sendo uma doença debilitante. Perante este enquadramento, não podemos descurar os desafios de integração que se colocam às pessoas que sofrem de dor crónica. O desemprego, o sub-emprego, a diminuição da produtividade e o desinvestimento na formação estão-lhes associados devido a uma série de factores que incluem não apenas a condição física como o estigma pela incompreensão da sua doença pelos pares e pela sociedade em geral. Como consequência, assistimos a fenómenos com impacto individual e familiar, como falta de auto-estima, problemas de saúde mental, afastamento social e diminuição da capacitação económica. Estes padrões são ainda agravados por uma certa relutância ou desconhecimento do doente quanto às respostas que lhe são fornecidas.

O desafio europeu coloca-se ao nível da priorização do diagnóstico, da organização do tratamento segundo padrões internacionais, da educação dos pacientes e famílias, da informação e consciencialização pública para a doença e seus efeitos e da integração social.

O Programa H2020 constitui uma ferramenta importante a nível de pesquisa e inovação na UE, com uma rúbrica de desenvolvimento societal visando a saúde, as alterações demográficas e o bem-estar, com uma dotação de 7,5 mil milhões de euros, podendo ser orientado para a melhoria das condições de diagnóstico e da aplicação de tratamentos e tecnologias inovadoras.

No Parlamento Europeu, conjuntamente com outros Deputados em que destaco o colega Carlos Coelho, apresentámos uma declaração a sensibilizar os restantes Eurodeputados para a necessidade de defendermos o acesso ao emprego por parte das pessoas que sofrem de doenças neurológicas ou dor crónica. Entendemos que urge clarificar e disseminar quais os direitos dos doentes, desenvolver acções de adaptação do local de trabalho e de reintegração (de que são exemplo os horários flexíveis) e incentivar os Estados- Membros a reconhecerem que é necessário um diagnóstico correcto e precoce das doenças crónicas, assim como tratamento e gestão adequados.

Trabalhamos igualmente em parcerias com associações locais, de que é exemplo a Associação de Doentes de Dor Crónica dos Açores. Integrada na Pain Alliance Europe, esta associação açoriana encontra-se a desenvolver um inquérito anónimo online (http://www.pae-eu.eu/?page_id=1892) dirigido às pessoas que sofrem de dor crónica e aos seus cuidadores sobre a causa da sua dor e a sua intensidade e os vários lugares onde receberam ou estão a receber o seu tratamento. O objectivo é a elaboração de um relatório com dados à escala europeia, o que pode constituir um importante contributo para a consciencialização e para a adequação de respostas para um problema tão sensível.

 

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