É quase unânime a opinião de que a sociedade dos nossos dias se aproxima cada vez mais de uma espécie de uniformização do pensamento, onde o pensamento divergente tende a ser abafado ou, em última instância, marginalizado. Mesmo não tendo qualquer experiência no campo da sociologia, não consigo deixar de me preocupar com o tratamento que hoje se dá àquela que para mim, enquanto cidadã portuguesa, foi a maior conquista do século passado, ou seja, a liberdade.
Assumo-me como uma adepta fervorosa da diversidade, até porque acredito que a diferença de pensamento, a diferença de crenças, as diferenças de línguas, de raças, de religião, só podem ser vistas como excelentes oportunidades de aprendizagem e de desenvolvimento da humanidade. Por isso mesmo, não me coíbo de discordar do que quer que seja, nem de quem quer que seja, de me “colocar do outro lado da barricada”, ou até de fazer o papel comummente chamado de “advogada do diabo”. Discordar é tão legitimo quanto reformular uma opinião, aquando da presença de novos argumentos e a humildade adjacente a este comportamento é, para mim, o fator diferenciador entre aqueles que se alimentam “do contra” e aqueles que, perante ideologias diferentes, esgrimem argumentos, elevando-os em defesa de uma causa maior.
Bem sei que tanto a ganância como a frustração são ágeis em corromper qualquer cenário que se apresente como promissor e/ou de sucesso, inviabilizando muitas vezes atitudes, comportamentos e conquistas de relevância para o cidadão comum mas, felizmente, que estas características ainda não são as que mais pululam por aí.
Já no que diz respeito à liberdade, eu arrisco-me a discordar de alguns “gurus” da sociologia, não por duvidar das suas competências, mas unicamente porque a minha vivência me deu, até agora, sinais totalmente contrários, isto é, inúmeros lugares comuns onde a liberdade é defendida, escrupulosamente respeitada e miraculosamente intocável, mesmo quando o seu exercício se traduz na assunção de alguns dissabores.
No dia em que nos permitirmos deixar de lutar por estes valores, em que a coragem passe a submissão, o diálogo seja unilateralmente transformado num discurso, em que o pensamento se transforme em mera informação, em que o grito dê lugar ao silêncio e a palavra apenas a um sussurro, no dia em que a luta não se reveja nos cravos, jamais conseguiremos convencer os nossos filhos de que o Dr. Mário Soares, um dia, fez parte desta nossa tão nobre história.
Viva a liberdade!