Baleia Azul — Opinião de Inês Sá

Não sou, nunca serei, nem anseio ser, qualquer tipo de exemplo na forma como educo os meus filhos, nesta era peculiar em que vivemos, pós-globalização. Tenho por certo inúmeros defeitos, falharei tantas ou mais vezes do que qualquer mãe, que vive na busca constante do equilíbrio entre aquilo que me é emocionalmente inato e aquilo que é racionalmente correto. Culpabilizo-me diariamente pela falta de alguma firmeza na imposição de regras, das quais normalmente fujo, consequência de uma infância vivida entre a instabilidade da rigidez de uma educação militar, por um lado, e uma educação mais liberal, por outro. É assim e é inevitável. Qualquer pessoa que tenha a seu cargo a educação de outrem, tudo fará para que nela não se repercutam os erros de que foi alvo no seu passado, até porque chegada a idade adulta, já nos é possível avaliar com alguma distância, as sequelas deixadas pela nossa própria educação. Por outro lado, a educação tem tudo do “marido das outras”, no sentido de que a do vizinho, é sempre o “arquétipo da perfeição, o pináculo da criação” e aquela que nós exercemos, só é enfatizada com a pretensão de julgamento ou censura, quase sempre por nossa iniciativa.

De igual forma, julgo ser de grande ousadia e de muito pouca coerência, permitirmo-nos comparar, não raras vezes em tom de vanglória, a educação de outrora com aquela que é exercida nos nossos dias. Do meu ponto de vista, são coisas dificilmente comparáveis porque, se é certo que a educação mudou, também é certo que todo o contexto se alterou. Se é certo que antigamente brincávamos livremente na rua, é também certo que nos dias de hoje este ritual não é compatível com a sociedade em que vivemos. Se é certo que éramos crianças mais imaturas, também é certo que hoje as nossas crianças estão à distância de um “click”, de uma imensidão de informação que nunca antes havia estado ao nosso alcance. Este paralelismo, entre o hoje e o ontem, multiplicado por inúmeras circunstâncias, mais não faz do que nos ajudar a entender que o mundo mudou e com ele a educação também. Socorrermo-nos deste tipo de comparação, para alimentarmos o nosso ego, julgo não ser o caminho mais correto, até porque esse exercício só nos distância das nossas crianças, dos nossos jovens, dos homens e mulheres de amanhã. Bem mais proveitoso será, porventura, direcionarmos as nossas atenções para aquilo que, com o passar dos anos, em nada alterou e para mim, aquilo que não alterou nem nunca deverá alterar, são os valores, sendo estes para mim o pilar de qualquer ser humano e o que deve estar na génese da nossa sociedade.

Durante a semana passada o “Jogo da Baleia Azul” fez furor em toda a comunicação social, foi alvo de reportagens especiais e anfitrião das redes sociais. Ouvi e li de tudo, com muita mas mesmo muita, preocupação. Trouxe o assunto a debate durante a hora de jantar em família, porque entendo que o assunto não deve ser camuflado mas sim conversado, principalmente com os mais novos, no caso, os meus filhos. Não quero com isto dizer que este é o melhor caminho, ou que com este diálogo terei no futuro uns filhos exemplares, que fugiram “a sete pés” desse tipo de jogos virtuais, provavelmente não. É apenas a minha forma de, enquanto mãe e por conseguinte educadora, lidar com a situação. Outros, legitimamente, preferiram criticar, julgar, enxovalhar os nossos jovens e isso sim, até mais do que o jogo, surpreendeu-me e entristeceu-me. Neste particular, não sendo eu adepta de qualquer posição mais radical ou extremista, permitam-me o desabafo: o ontem, o passado, não é melhor do que o hoje e o presente, ou seja, o facto de ter sido educada noutra época, noutro contexto, não faz de mim uma pessoa melhor educada do que aqueles que estão a ser educados nos dias de hoje, apenas fui educada numa realidade completamente diferente, daquela com que nos confrontamos no presente. Os desafios que se colocam à educação atualmente são outros e garantidamente bem mais difíceis de ultrapassar. Pessoalmente, estou francamente convencida de que quanto mais alimentarmos este fosso, entre os jovens e os adultos de hoje, mais difícil, será, para todos o futuro.

 

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