Opinião de Inês Sá
E assim se fecha mais um capítulo da minha caminhada pela vida.
Neste momento de despedidas, que quem me conhece sabe bem o quanto as detesto, não podia deixar de, em jeito de balanço, relevar aquilo que de melhor levo e também que de melhor deixo, destes 13 anos vividos em solo Micaelense.
Começando por aquilo que me é emocionalmente mais fácil, apesar de aqui ter iniciado um percurso profissional numa área para mim totalmente desconhecida, praticamente do zero, levo comigo a certeza de que dei sempre o meu melhor e de que aprendi imenso nas três empresas por onde passei. Recordo-me bem de, aquando da minha entrada para a uma empresa regional, cuja atividade abrange todas as ilhas do nosso arquipélago, passarem-me pelas mão nomes de portos de pesca de que eu nunca tinha ouvido falar, não fazendo até a mínima ideia a que ilha pertencia determinado concelho, baralhando por completo os grupos geográficos respetivos, entre tantas outras “gaffes” comuns a quem, quase que por magia, aterra nesta Região insular.
Depois veio o desafio dos transportes marítimos e todo um percurso peculiar recheado de momentos magníficos e outros nem tanto. Felizmente que num destes momentos de maior fragilidade surge mais um desafio, desta feita dando continuidade ao objeto principal – transportes – mas num âmbito mais alargado. Desafio aceite, mais uma missão cumprida.
Quando agora olho para trás, torna-se aos meus olhos por demais evidente, que eu tinha que ter feito exatamente este percurso, não só pela bagagem com que cada um destes três locais de trabalho me ofertaram, como pelas pessoas/ colegas com quem tive o privilégio de trabalhar. Nenhum foi igual ao anterior, cada um com o seu ambiente, cada um com diferentes temáticas, cada um com diferentes rotinas, diferentes lideranças, diferentes ritmos, diferentes motivações. O único fator em comum que consigo identificar entre eles, é mesmo a certeza de que em todos eles deixei um pouco de mim e de todos eles trouxe um pouco daqueles com quem partilhei, por um determinado período de tempo, os meus dias. E nem que fosse só por isso, nenhuma destas experiências poderia não ter sido concretizada.
Passando agora para aquela outra parte que me é emocionalmente bem mais difícil, permito-me o regozijo de aqui partilhar que, passados já alguns anos desde o dia em que aqui aterrei, hoje sinto-me de facto uma pessoa bem mais feliz, imensamente mais rica, imensamente mais completa, infinitamente grata a todos aqueles que me proporcionaram momentos únicos e sentimentos extraordinários, que me fizeram sentir verdadeiramente “em casa”.
Recordo-me que não foram raras as vezes que me sussurraram ao ouvido que “o povo açoriano não é de amizades fáceis, mas que depois de construídas, jamais serão esquecidas”. Pois até nisso eu sou açoriana, e talvez por isso mesmo levo agora comigo a certeza, de que não será por certo o mar que nos separa, suficientemente forte para destruir as amizades aqui solidamente construídas.
Já lá vão uns anitos, desde o dia em que alguém por quem eu tenho grande apreço, cuja formação se desenvolveu em ambiente militar, no decorrer de uma conversa por acaso sobre política, me explicou que toda a sua vida se pautava por missões, não obstante a sua identificação pessoal com determinada ideologia. Nenhuma missão era por ele encarada como um trabalho para sempre, dizia sempre estar de passagem, cumprindo o seu desígnio invariavelmente numa base de enorme rigor, profissionalismo e empenho.
Não sendo eu militar, mas uma aluna sempre disposta a aprender, esta linha de pensamento consegue neste momento ser o retrato fiel daquilo que sinto.
E com a devida e mais do que merecida continência, a todos os que aqui ficam, me despeço… até já S. Miguel!