Opinião de Inês Sá
Uns por interesses duvidosos, outros por mera curiosidade, outros porque de facto se sentem preocupados, a verdade é que a pergunta que me persegue, desde o dia em que decidi mudar os meus caixotes de S. Miguel para o Faial, é quase sempre a mesma: “Não tens medo desta mudança?”, à qual eu invariavelmente respondo abanando a cabeça na horizontal, ao mesmo tempo que prolongo um redondo “não”. Mas a verdade é que são tantos os receios que conhecidos e amigos partilham comigo, que no meio de tanta certeza, acabo por ficar meia confusa!
Na minha vida, só há mesmo uma coisa de que realmente tenho medo, que é o medo da morte, sendo que este se aguçou desde que há 10 anos tive o meu primeiro filho, e que se fundamenta essencialmente no prazer que tenho em acompanhar o crescimento dos meus dois filhos, e também no facto de ainda ter muito trabalho a fazer até concretizar os meus objetivos de vida. Não vou para o fim do mundo, vou para a ilha do Faial, que dista de meia dúzia de braçadas do Pico, de S. Jorge, da Graciosa, e com mais meia dúzia de braçadas chegamos a todas as restantes ilhas.
Entretanto e felizmente, não me conheço qualquer problema de saúde que me possa limitar o que quer que seja, vou à luta, vou à descoberta, vou conhecer pessoas novas, outros colegas de trabalho, outras paisagens, outros locais, outras particularidades inerentes à insularidade, inevitavelmente criando diferentes rotinas. Até aqui, só me posso sentir uma privilegiada!
“Mas o Faial é diferente, não é como S. Miguel!”- insistem. Pois, bem sei que das nove ilhas deste arquipélago, embora com algumas semelhanças, nenhuma ilha é igual à outra, nem em tamanho, nem em paisagem, nem em tradições, nem em pessoas, nem em serviços, nem em comércio, nem em nada! Aliás, se assim fosse, não seria a mesma coisa… Nada nos enriquece mais do que a diversidade, nada nos ensina mais do que a diferença, nada contribui mais para a nossa maturidade, do que aqueles momentos em que nos propomos sair da nossa zona de conforto, mesmo conscientes de que toda e qualquer mudança não se reveste só de coisas boas e nem sempre corresponde com as nossas expectativas. Ainda assim, é indubitável que a mudança acrescenta sempre mais alguma bagagem à nossa caminhada, independentemente do desfecho da experiência.
Para além de tudo isto, nada é para sempre, nem eu pretendo em “tão tenra” idade, decidir já o itinerário completo dos meus caixotes, até porque este será sempre definido não só por mim, como também por aqueles que fazem parte de mim e são essenciais para me fazer feliz, à nossa pessoal e sedimentada, maneira.
Por outro lado, à semelhança daqueles amigos que sem pedir licença se posicionam naquele cantinho especial do nosso coração, também a ilha de S. Miguel me conquistou de tal forma, que é hoje e será sempre a minha casa, não só enquanto edifício sede da família, como também pelo facto de ter sido esta ilha que, com o meu total consentimento, efetivou com distinção a minha adoção, pelo que só lhe posso retribuir com enorme e eterna gratidão.
Agora que espero ter conseguido acalmar algumas hostes mais agitadas e saciar a curiosidade mais repenicada, resta-me marcar novo encontro convosco para daqui a 15 dias, tal como já vem sendo hábito, porque aqui em S. Miguel, no Faial, em S. Jorge, no Pico, na Graciosa, na Terceira, no Corvo, nas Flores e em Santa Maria, este cantinho, para o bem e para o mal, continuará a ser nosso, isto é, dos Açores.