Era dia 12 de Maio e eu estava em frente da televisão, com o comando em punho, mudando sucessivamente de canais, enquanto acabava o pequeno-almoço. Vários canais apresentavam reportagens directas de Fátima, todos relatando um pouco mais do mesmo, preenchendo o tempo com notícias do que havia de acontecer… Neste zapping apressado, parei subitamente. A imagem era inesperada, surpreendente mesmo: um jornalista, profundamente emocionado, deixava-se filmar…e até entrevistar… Fiquei cativa. Fui então percebendo que dois jornalistas haviam acompanhado um grupo de peregrinos ao longo de muitos quilómetros e de muitos dias no seu caminho para Fátima; e que o haviam feito, enquanto repórteres, lado a lado com os peregrinos, partilhando as mesmas dificuldades, experimentando o mesmo cansaço, sofrendo as mesmas dores. Os peregrinos tinham-lhes dito que tudo valia a pena pela chegada a Fátima, que todo o peso da caminhada desaparecia com a chegada a Fátima, que a chegada a Fátima desencadearia emoções intensas e irreprimíveis. Deviam-se preparar – diziam os peregrinos. Os jornalistas estavam alertados. Mas a chegada a Fátima superou todas as narrativas, ultrapassou todas as expectativas e os dois repórteres não conseguiram conter as lágrimas de emoção.
Não ouso interpretar a emoção de cada um…, mas sei que a espiritualidade se pode elevar dos corações em que se alimenta e espalhar-se pelo ar que vamos respirando e nos vai contagiando de espiritualidade também.
Será assim agora também nos Açores por ocasião da celebração do Senhor Santo Cristo dos Milagres. Os rostos de fé, as atitudes de devoção, os gestos de adoração fazem aumentar a fé dos crentes, na partilha dos mesmos sentimentos que reforçam as mesmas convicções, e não deixam de tocar os não-crentes, que contemplam a paz e serenidade dos crentes mesmo em momentos de forte adversidade. A espiritualidade será forte entre nós e crentes e não-crentes que nela se deixem mergulhar, encontrarão no Senhor Santo Cristo dos Milagres um caminho para a sua peregrinação quotidiana.