Revolução Chinesa — Opinião de Sofia Ribeiro

Encontro-me na China, integrada numa delegação restrita de 9 Deputados do Parlamento Europeu, convidados e acolhidos pelo Governo Chinês numa visita de uma semana a quatro importantes cidades do sul deste país (Pequim, Zhengzhou, Nanjing e Yancheng), numa extensão superior a 1.000 quilómetros. Através de uma série de reuniões com o Governo central e das diferentes províncias, com o poder local, com instituições de ensino superior e com organismos comerciais e agrícolas, pretendemos inteirar-nos de uma iniciativa chinesa que vai, indubitavelmente, revolucionar o cenário económico e social mundial.

Refiro-me ao projecto “One belt one road”, que já se encontra em execução e que visa a cooperação para o desenvolvimento em diferentes áreas, estabelecendo e melhorando ligações férreas de alta velocidade, bem como marítimas (com a construção e adaptação de portos), com o intuito do crescimento económico. Mas este projecto persegue igualmente um fito de partilha do conhecimento técnico e científico que não deve ser descurado, no que concerne, sobretudo, à robótica, à inteligência artificial e à engenharia, em especial a digital.

Envolvendo directamente 65 países e estabelecendo 2.400 parcerias regionais, este projecto traduz uma política expansionista da China, que se encontra, neste momento, a desenvolver uma revolução económica, tecnológica e, até mesmo social (o Governo pretende urbanizar 300 milhões de pessoas em 7 anos). Indubitavelmente, a China pretende liderar a agenda internacional e afirmar-se como uma economia de mercado, sendo que o foco do Governo Chinês deixou de centrar-se na política doméstica, não obstante não descure a prossecução do regime totalitário comunista vigente.

Note-se que não estamos em condições de equidade neste desígnio mundial que visa o crescimento. A China aumentou os investimentos na União Europeia, nos últimos 7 anos, em 20 vezes, passando dos 2.000 milhões de euros investidos em 2010 para os 40.000 milhões de euros registados no ano passado. Já o nosso investimento naquele país é 4 vezes inferior, variando entre 8.000 a 10.000 milhões de euros anuais por todos os Estados-Membros que compõem a UE, em que as empresas europeias registam dificuldades de operar naquele país, que desenvolve uma política proteccionista que define uma margem máxima de investimento das empresas estrangeiras, em sectores considerados estratégicos.

Questiono se não deveríamos assumir uma atitude semelhante ou, até mesmo, operar através de consórcios com quotas mínimas obrigatoriamente pertencentes a empresas europeias. Não obstante, a União Europeia terá de ser mais proactiva e trabalhar não apenas com a China, mas com os restantes países da região, se quisermos ser considerados como parceiros e não ficar à margem deste emergente modelo de urbanidade.

Em paralelo, convém não descurarmos outros dois importantes factores. O primeiro reside numa transição qualitativa da produção chinesa, que pretende afirmar-se no cenário internacional pela qualidade dos seus produtos, através da campanha que estão a desenvolver intitulada “made in China 2025”. Não deixa de ser sintomático que a China, capaz de produzir em larga escala a baixíssimo preço, pretenda agora investir na qualidade dos seus produtos. O segundo, e não somenos importante, traduz uma deslocalização da rota comercial sino-europeia para a parte Norte do nosso hemisfério, privilegiando Berlim como ponto de contacto Europeu e excluindo os países do Sul da Europa. Cresce, assim, o risco da assimetria entre o Norte e o Sul da Europa, a menos que sejamos capazes de nos afirmarmos estrategicamente. A nossa relação com África constitui uma grande aliciante para a China e Portugal pode aqui assumir um privilegiado ponto de contacto. Fica  o repto.

 

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