Reduzida maioria de esquerda na Assembleia da República

Domingos Pereira, até agora deputado socialista, entregou o cartão de militante em protesto contra a direção do PS. Passará a ser independente no Parlamento e torna mais curta a maioria de esquerda.

Domingos Pereira, até agora deputado socialista eleito pelo círculo eleitoral de Braga, entregou o cartão de militante socialista e passará agora a independente no Parlamento, depois de ter entrado em rota de colisão com a direção nacional do partido.

A notícia está a ser avançada pela SIC Notícias. De acordo com a estação de Carnaxide, Domingos Pereira, que era também presidente da concelhia do PS de Barcelos, deixa os socialistas depois de o partido não ter apoiado a sua candidatura à Câmara Municipal de Barcelos. O caso de Domingos Pereira já tinha sido referenciado pelo Observador como o mais sensível que os socialistas tinham por resolver nas eleições autárquicas.

Para perceber o caso é preciso recuar até 2009. Nesse ano, o socialista Miguel Costa Gomes venceu as autárquicas contra o “dinossauro” Fernando Reis, do PSD. Em 2013, renovou o mandato. Quatro anos depois, a estrutura local tirou-lhe o tapete e avançou com o nome do deputado Domingos Pereira para candidato. Um detalhe: Domingos Pereira era um dos vereadores de Costa Gomes.

As desavenças entre Costa Gomes e o aparelho distrital de Braga atingiram o seu momento mais crítico em abril. Foi quando o PS de Barcelos promoveu um processo de consulta interna para escolha do próximo candidato à autarquia. Presidentes de junta, vereadores e membros do Secretariado e da Comissão Política Concelhia do PS votaram em urna e com voto secreto e o resultado foi inequívoco: Domingos Pereira era o escolhido como o candidato do aparelho a presidente da Câmara.

Pouco tempo depois, a 6 de maio, Costa Gomes retirou os pelouros a Domingos Pereira, falando em “deslealdade”. O afastamento do deputado socialista provocou uma debandada geral: em solidariedade com o deputado, outros três socialistas bateram com a porta e renunciaram aos pelouros que detinham. Costa Gomes ficou praticamente isolado.

No entanto, e como também escreveu o Observador, a escolha de Domingos Pereira para candidato do PS à Câmara Municipal de Barcelos colide com uma regra fundamental que a direção nacional definiu para esta corrida autárquica: em condições normais, o partido deve apoiar os autarcas que se queiram recandidatar. E foi isso que os socialistas decidiram na última reunião da Comissão Política Nacional do PS: ao contrário do que decidira o aparelho local, será Costa Gomes o candidato.

Confrontado com a decisão da direção nacional do PS, Domingos Pereira decidiu, assim, entregar o cartão de militante. No entanto, o minhoto não tenciona demitir-se do Parlamento, o que pode criar uma situação invulgar: em caso de abstenção do PCP, os socialistas não conseguirão formar maioria parlamentar.

Em teoria, este cenário pode conduzir a uma espécie de reedição do segundo Governo minoritário de António Guterres (1999/2001), que precisava de negociar com um deputado de outra bancada parlamentar (o mais mediático foi Daniel Campelo, ex-edil de Ponte de Lima e deputado do CDS) para fazer aprovar o Orçamento do Estado.

 

 

 

 

 

Foto: Direitos Reservados

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