Desejos de Ano Novo — Opinião de Inês Sá

É desconcertante perceber que já se passou mais um ano.

– Tão bom! Dizem, os mais otimistas, os mais novos, os mais velhos, aqueles que anseiam pelo dia seguinte, quiçá unicamente para viverem por mais um dia, outros para concretizarem o que deixaram por fazer ontem, para conquistarem mais uma vitória, ou até mesmo para alimentarem um pouquinho mais o ego. – Já? Dirão aqueles que, tal como eu, se sentem intimidados perante a fugacidade do tempo, da vida, em que a cada dia que passa acrescentam mais dois ou três temas à sua lista de afazeres, em que cada dia é dia de rever e reformular caminhos, de sedimentar valores, de não me deixar resignar perante o caos que a cada passo, construímos, confrontamos e desavergonhadamente fingimos não ver, para assim, à margem do alheio, sermos capazes de enunciar os nossos mais inocentes desejos, rumo ao nosso conceito de felicidade!

Já há alguns anos que tenho como ritual ouvir o noticiário enquanto preparo o jantar da família, é quase tão natural e automático como ler o jornal logo pela manha. E se há dias em que este ritual não me atrapalha, a verdade é que nos últimos dias o sono tarda em chegar, levado pela atrocidade das imagens de Aleppo, pela insanável e incompreensível vitória de Trump, pela corrupção no nosso País, pela falência iminente do Serviço Nacional de Saúde, pela monstruosidade de casos de abusos sexuais de menores que têm sido descobertos na nossa Região, em resumo, pela total insignificância que assumem os meus eventuais desejos para o próximo ano, num presente em constante ebulição.

E é nestes momentos que, confrontada com tamanhas atrocidades que se sucedem a nível global, me reduzo à minha pequenez, talvez até ao meu egoísmo, pela obvia certeza de que apesar de nada conseguir fazer para mudar o mundo, muito há a fazer há minha volta, no meu espaço, no meu contexto. E neste sentido, enquanto houver pobreza, fome, frio, enquanto existirem crianças privadas de medicação pelo custo que esta acarreta, enquanto existirem escolas públicas que fornecem diariamente sandes como refeição, mesmo sabendo que esta poderá ser a única refeição de uma criança, enquanto o mais pequenino poder for maioritariamente sinonimo de corrupção, eu não me consinto perder-me na imensidão de problemas à escala mundial, não obstante a revolta, profunda tristeza e indignação que estes me causam.

Não faltará quem me considere uma sonhadora, ou até excessivamente inocente, mas nem por isso eu deixo de acreditar que a utopia de uma sociedade decente é passível de se tornar realidade, desde que deixemos de olhar apenas para o nosso umbigo e para os nossos.

Por isso, na minha lista de desejos para o ano que se avizinha, constará apenas a minha vontade de jamais deixar de acreditar que é sempre possível fazer mais e melhor, não só por mim ou pelos meus, mas por tudo aquilo e aqueles que me rodeiam.

Termino desejando a todos, especialmente a todos os que por esta via me acompanham, um Santo Natal e um Feliz Ano Novo e citando o grande Jorge Palma, “Enquanto houver estrada para andar, a gente vai continuar.”

 

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